DEMOCRACIA

Editorial

Ser cidadão não é apenas votar no dia das eleições nem ajudar uma idosa a atravessar a rua. Ser cidadão é endireitar as costas, calçar os sapatos e adotar uma postura firme perante a própria existência. Queres viver por algo maior do que ti próprio e deixar para trás o ‘eu’ que tantas vezes te prende? Excelente — é assim que começa o caminho de um verdadeiro cidadão.

Miguel Dias e Rodrigo Miranda

Se todos os dedos de uma mão fossem polegares, a mão teria, com toda a certeza, uma anatomia diferente e com muitas consequências a nível funcional: a mão seria mais curta e larga e perderíamos a habilidade de fechá-la. A motricidade fina seria também severamente afetada, pelo que escrever ou tocar guitarra seriam tarefas impossíveis nestas condições. Por outro lado, se todos os dedos fossem mindinhos, a mão seria frágil, mirrada e nem sequer conseguiria aplicar a força necessária para abrir uma porta. Uma mão humana tem, na verdade, cinco dedos: polegar, indicador, médio, anelar e mindinho.  Todos eles são diferentes e todos eles têm uma função de auxílio aos outros dedos, pelo que, uns sem os outros, os dedos seriam inoperantes. 

Tal como os dedos que compõem uma mão, assim é a cidadania. Todos nós temos virtudes e fraquezas. Mas, afinal, o que seria uma virtude se não a pudéssemos partilhar com o próximo, ou uma fraqueza se eu não pudesse receber ajuda? 

Para aprender sobre cidadania não é preciso ir muito longe. A maior lição de cidadania encontra-se na palma das nossas mãos e naquilo que conseguimos fazer com elas.

Desde a cidadania política até a histórias de superação de pessoas que já foram sem-abrigo, passando por questões como imigração, ativismo climático e pelo mundo digital, estas páginas mostram como o “ser cidadão” se revela em cenários tão diversos, mas quotidianos. 

Nesta edição, a Revista Narrativas convida à reflexão sobre o verdadeiro significado da cidadania. Ser cidadão não é apenas ter um mero cartão de plástico ou um direito de voto que usamos de quatro em quatro anos. Ser cidadão é não aceitar o silêncio diante da injustiça. É a prova de que cada gesto, cada palavra, cada escolha molda o mundo em que vivemos. Cidadania é ação, é consciência, é coragem. 

É o ato de erguer a voz quando todos se calam, de cuidar do que é comum como se fosse próprio, de transformar a indignação em movimento. Vivemos tempos em que a apatia é a arma mais perigosa — e o maior ato de rebeldia é participar.